terça-feira, 8 de abril de 2008

9. ANEXOS



O RIO MUNDAÚ DA MINHA INFÂNCIA




Enchente no Rio Mundaú em foto da Vereadora Genisete de Lucena





Por OLÍVIA DE CÁSSIA CORREIA DE CERQUEIRA
JORNALISTA



O Rio Mundaú da minha infância, era onde eu costumava tomar banho com as amigas, escondido da minha mãe. O rio era estreito e muito fundo em alguns locais e, às suas margens, havia muitas barreiras com plantações de bambu, ingá, manga, amêndoa, entre outras plantações, que protegiam as encostas. As barreiras do rio eram onde terminavam os quintais das casas construídas às suas margens. Com o passar do tempo, foram desmatando aquela orla fluvial, o que foi causando o assoreamento do Mundaú. As barreiras foram para dentro do rio, tornando-o raso e largo, por conta do desmatamento, resultando, agora, em grandes enchentes e destruições, quando chove muito.

Quando morávamos na Rua da Ponte, na nossa casa da mercearia, em frente ao posto do seu Ancelmo Cavalcante, o Nininho, um dia eu cometi não sei qual o mal feito e minha mãe me jurou uma boa surra. Não pensei duas vezes: fiquei escondida debaixo de uma das camas do nosso quarto e lá fiquei o dia inteiro e dormi. Causei o maior reboliço e meus pais já achavam que tivesse morrido afogada nas águas do Rio Mundaú, já que costumava tomar banho sem que eles. Meu irmão mais velho, desesperado, foi para o quarto chorar o meu “desaparecimento”, quando percebeu o meu esconderijo. Aí todos festejaram o achado e eu me livrei de uma boa surra.
O Mundaú era povoado por várias espécies de peixe, principalmente a traíra, aratanha (espécie de camarão de água doce), pitu e piaba, mas quase que desapareceram naquela região, devido à poluição, ao lixo jogado nas margens do rio, dejetos, animais mortos e à tiborna, que também passou a ser jogada em abundância, durante muitos anos. Eu e meus irmãos costumávamos pescar com pão doce ou minhoca que serviam de isca para os peixes. Às vezes conseguíamos pescar algumas piabas, que nós apreciávamos acompanhadas do cuscuz que mamãe fazia.

O Rio Mundaú faz parte das nossas vidas e precisa que alguém interceda por ele, senão ele vai morrer por causa da poluição. Presenciei algumas enchentes no rio e as que mais me assustaram foram as de 1970, que tinha sido uma das maiores, e a de 1989, que atingiu os municípios banhados pelo Mundaú. Depois de passado o pesadelo das águas, que tinham encoberto quase todas as casas da Rua da Ponte, Jatobá, Cachoeira e o Taquari, restava o desespero da fome, da falta de moradia, e de soluções para os desabrigados das cheias.

No dia seguinte à enchente, quando as águas baixaram, as famílias começaram a voltar e tentavam aproveitar o que tinha sobrado de seus pertences. Dava a impressão que as ruas haviam sido devastas por uma guerra, tal a destruição que as águas tinham provocado. A cabeceira da ponte Rocha Cavalcante tinha sido levada pelas águas e as máquinas da Prefeitura de União dos Palmares e de fazendas locais trataram de recuperar. As grades de ferro da ponte, que serviam de proteção, ficaram praticamente destruídas e cobertas de lixo, mato e resto de material que as águas arrastaram.

Os comerciantes da Rua Orlando Bugarin tinham perdido tudo: mercadorias, roupas e tentavam, de alguma forma, recuperar o que ficou na lama. Armazéns foram saqueados, conjuntos invadidos. Algumas casas da Rua da Ponte e do Jatobá ficaram totalmente destruídas. Móveis eletrodomésticos estavam imprestáveis, atolados nos escombros, nos entulhos do lixo e da lama.
Vários moradores dessas ruas sobreviveram ao volume das águas nos telhados e árvores dos quintais das casas. Meu irmão Paulinho foi um deles. Passou uma tarde e uma noite em cima de um pé de manga que tinha sido plantado nos fundos da casa onde moramos, junto com outros homens, porque não pôde atravessar a ponte, quando o rio invadiu as ruas.

O rio Mundaú deixou apenas os telhados das casas descobertos, e parecia um mar. Um imenso mar de águas barrentas. A Rua da Ponte chegou a ser condenada pela Prefeitura e parecia que seria impossível reconstruir alguma coisa lá, devido às enormes crateras que tinham se formado, pois o calçamento havia sido levado pela força das águas. Mesmo assim, alguns moradores, desesperados porque não tinham para onde ir, voltaram para o que havia restado de suas casas e recomeçaram a construir e a conviver com o medo e o perigo.

Por duas vezes, quase morri afogada nas águas do Mundaú. O rio tinha uns famosos porões, que todo mundo temia. E as histórias de afogamento às vezes eram freqüentes no local, o que causava preocupação a meus pais. Desde menina fui muito teimosa e insistente, cabeça dura naquilo que fazia. A teimosia me perseguiu a vida inteira, o que me levava a fazer quase tudo ao contrário do que minha mãe me dizia. E acabava sempre me prejudicando, apanhando fosse de fato ou com alguma conseqüência pelo mal feito. Até hoje é assim, talvez seguindo o dito popular de que “pau que nasce torto, morre torto”, e não tem jeito.





PROJETO PROPÕE RECUPERAR MATA CILIAR DO RIO MUNDAÚ




Olívia de Cássia
Repórter


Um projeto adotado, desde o ano de 2006, pelas professoras MADALENA SOARES e MADALENA MONTEIRO, coordenadoras do selo UNICEF (Fundo das Nações Unidas para a Infância) e realizado por alunos da quinta à oitava série da ESCOLA MUNICIPAL MÁRIO GOMES DE BARROS, de União dos Palmares, está fazendo o replantio da mata ciliar do Rio Mundaú, iniciando pelas ruas do Taquari e nas imediações do Choque, e ampliando para a Rua do Jatobá.

Amendoeiras, jambo, azeitona, manga, ingá, bambu, ipê roxo, amarelo e rosa já foram plantados na comunidade do Taquari, em um hectare de terras que foi doado por seu Fernando da Silva, conhecido na região como FERNANDO ALVES, um parceiro do projeto de recuperação da mata ciliar do Rio Mundaú.

Segundo a professora Madalena Soares, o objetivo do projeto é replantar toda a mata ciliar que fica às margens do Rio Mundaú que se encontra em estado de degradação, mesmo sendo a principal fonte de recursos hídricos do município. “Por enquanto estamos fazendo o replantio das mudas em uma das margens, mas nosso objetivo é ampliar o projeto para o outro lado; queremos dar continuidade envolvendo todas as escolas do município”, observa.

Madalena explica que com esse envolvimento das demais escolas, o trabalho ganha corpo e pode ser ampliado para outros municípios onde o rio percorre, a exemplo de Santana do Mundaú, Branquinha e Murici e Rio Largo. “Com o replantio da mata ciliar vai aumentar o nível do rio, melhorando a qualidade da água, aumentando as espécies de peixes e contendo a erosão, evitando assim o assoreamento do rio e funcionando como barreira de contenção em época de enchentes”, ensina.

A professora, que tem graduação em biologia, diz que o projeto não poderia ter começado se não fosse a consciência ecológica e a parceria de seu Fernando, morador da Rua do Taquari que doou a área para o plantio e que, além disso, mantém o local quando a equipe do projeto não está presente. “Seu Fernando conversa com os moradores e nos ajuda a conscientizá-los da importância do rio para a comunidade”.


CONSCIÊNCIA


“Procuro mostrar para os moradores que não devem jogar lixo no rio; outro dia uma moradora ia com três sacos de lixo e eu perguntei aonde ela ia com aquilo. Conversei e a convenci de esperar o carro de coleta, que passa na rua três dias na semana”, conta seu Fernando, que depois de uma grande enchente do rio que derrubou várias casas que eram de propriedade de seu pai, resolveu: ao invés de reconstruir os imóveis, fazer plantação de fruteiras que hoje já dão frutos.

Para que o projeto de recuperação da mata ciliar fosse aceito na escola e na comunidade, a professora Madalena conta que procurou outros parceiros para a viabilização da sua idéia: “Procurei o Lagoa Viva, um projeto da Braskem, que deu suporte e a escola abraçou o projeto; a partir do empenho dos professores do Mário Gomes e dos alunos, foi feito o trabalho com atividades educativas de conscientização com os alunos, com textos, poemas, teatro e paródias. Os poemas serão publicados em um livro que já está quase pronto”, diz.

“Fazemos visitas periódicas nas casas para verificar o desenvolvimento das mudas que estão plantadas nos quintais dos ribeirinhos; se morrer alguma muda, eles replantam e os alunos vão fazer o trabalho de fiscalização”, explica Madalena, acrescentando que as mudas, principalmente de ingá, são mudas resistentes à força da água em época de rio cheio.

Ela avalia que esse projeto que está coordenando é para as futuras gerações. “Daqui a dez anos teremos aqui um parque que terá o nome da escola para que os alunos façam estudos; funcionará como uma espécie de laboratório”, observa.

Paulo José é um morador da cidade que participou da visita à área onde o projeto está sendo desenvolvido. Ele observa que esse trabalho dos professores e alunos da Escola Mário Gomes é muito importante para a cidade. “Se todos os moradores tomassem consciência da importância do Rio Mundaú para a cidade, o rio não estaria tão poluído como está agora”. Paulo destaca que com o replantio das mudas haverá equilíbrio do ecossistema “e se houver mais parcerias e mais pessoas envolvidas, daqui a alguns anos essa área vai ficar muito bonita”, diz.

Outra área de preservação já está começando a ser utilizada na comunidade e foi doada pelo SAAE – Sistema de Abastecimento de Água e Esgoto do município. “O SAAE doou uma área na estação de tratamento, para que o projeto seja desenvolvido; temos parceiros como: as secretarias de Agricultura, Meio Ambiente e Educação do município, que estão nos dando suporte técnico”, finaliza a professora Madalena.

Nenhum comentário: